quinta-feira, 15 de abril de 2010

Inspiração

Um dos compositores mais divertidos é Rossini. As aberturas das óperas dele colocam um sorriso na cara do metaleiro mais tatuado.

Ele descreveu o processo criativo dele assim:

"Espero até a tarde da véspera da Prima (primeira noite). Nada melhor para excitar a inspiração que a presença de um copista esperando pelo seu trabalho e o desespero de um empresário arrancando os cabelos. Em meu tempo, todos os empresários eram carecas como a palma da mão aos 30 anos de idade."

Numa dessas tardes, o empresário o colocou no segundo piso de uma casa, perto da janela. A orquestra ensaiava no pátio abaixo enquanto ele escrevia as partituras. O empresário deu ordens que, faltando partituras, ele fosse jogado ao pátio.

Esses momentos são bem conhecidos na informática também. E como empresários, os gerentes pouco podem fazer, exceto desesperar-se e arrancar os cabelos.

Prokofiev compôs na União Soviética durante a Segunda Guerra. No dia anterior à derrota dos alemães, ele estreiou uma sinfonia em Moscou. Isso dá novo sentido a trabalhar sob pressão!

E isso, por analogia, diz algo sobre a natureza do trabalho de programação. Os programadores não são substituíveis nem previsíveis. X horas de trabalho não resultam, sistematicamente, em Y linhas de código. Se eles têm talento, entregam a obra a tempo. Se não são competetentes o suficiente para a tarefa, não entregam um produto satisfatório nunca. Em alguns casos, não chegam a entregar qualquer coisa. Alguns conseguem entregar um produto no prazo justamente porque escrevem menos código, talvez porque saibam escolher a ferramenta certa.

Programadores barrocos abundam. Eles escrevem linhas e mais linhas de código maravilhoso e pronto para ser aproveitado no próximo projeto (desde que seja igual a este). Utilizam todos os frameworks disponíveis e parametrizam até os parâmetros com XML.

Rossini e Prokofiev são econômicos. Eles colocam a nota certa no momento exato em que ela vai dizer algo importante. Ambos usam muitas pausas e sabem usar os instrumentos certos para cada passagem. Os compositores barrocos, como os programadores prolixos, são pesados, porque usam muitas notas e dizem pouco.

Rossini tinha vários projetos concorrentes e não hesitou em usar para Barbieri algo que tinha preparado para uma ópera chamada Elisabetta. O resultado, segundo ele, "agradou o público". Prokofiev agradava o público, mas não aos burocratas do Partido Comunista que, como alguns gerentes de hoje, não tinham humor nem senso artístico.

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