quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Evitando o ruído matinal

Há uma revolta crescente contra o grupo que domina a mídia no Rio Grande do Sul. Eu não consumo nenhum de seus produtos; evito até os da TV aberta. E não é por ideologia; é porque o conteúdo é muito pobre mesmo.

Este ano descobri o Télématin da TV5 (TV francesa). Não havendo qualquer outro motivo para aprender a língua francesa, ter o prazer de assistir à programação matinal da TV5 já deveria bastar. Os apresentadores são bem-humorados, o conteúdo é leve e informativo. Quando discutem política ou economia, o fazem com seriedade e alguma profundidade (o tempo, é claro, também é exíguo na TV francesa).

Fujo assim do ruído matinal dos noticiários da RBS e da Globo. Eles contêm excesso de violência (quem quer saber de violência durante o café da manhã?), excesso de futebol (mesmo quando não há jogos!) e bobagens como a abertura das bolsas. Se o movimento de fechamento das bolsas informa pouca coisa, que dirá o de abertura! A variação diária da bolsa de valores é apenas ruído: metade dos dias ela sobe e metade dos dias ela desce. Agregar uma explicação é patético, quando não malicioso.

Os apresentadores da TV5 conseguem ser divertidos sem cair no ti-ti-ti que as mocinhas da RBS julgam apropriado para um programa de informação. Os franceses também falam de esportes, mas não se limitam ao futebol e tampouco gastam tanto tempo nele quanto os jornalistas locais. De quando em vez tenho a sorte de assistir às Escapadas de Petitrenault (que segue o Télématin), um programa no qual o Monsieur Petitrenault passeia pela França conversando com as pessoas principalmente sobre a culinária local, mas sempre em lugares interessantes (e nunca dentro de estúdio).

O principal jornal gaúcho, a Zero Hora, é o maior representante da pobreza jornalística do estado. Tem muito mais opinião que análise. Dificilmente as notícias são colocadas num contexto histórico; parece que retórica basta. A seção mais informativa são os classificados. Na última página, para fechar em grande estilo, temos a opinião de um senhor que confessou que lê apenas o jornal para o qual escreve.

A Globo consegue inadvertidamente agregar algum humor quando convoca um correspondente estrangeiro em Buenos Aires para apresentar notícias da Venezuela. Ou alguém em Kuala Lumpur para informar sobre Tóquio (ao vivo!).

Eu tenho sorte, posso usufruir da TV5, da TVE, da BBC e até da DW (que tem programação em espanhol e inglês). É uma pena que muitos de meus compatriotas estejam presos ao mundo pequenino (e um tanto sombrio) das mídias nacionais, porque elas ofercerem muito pouco.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Respeito

Recebo todos os dias a "Word of the Day" do dicionário Webster. Frequentemente, as palavras são de origem latina e essas dificilmente oferecem alguma novidade para quem tem como língua materna o português. Mesmo assim, as análises etimológicas que sempre acompanham são interessantes, porque revelam como as duas línguas (o português e o inglês) maltrataram de formas diferentes as palavras.

A última palavra do dia foi respite, cuja avó latina é respectus. Em português, respeito descende dessa palavra. A latina respectus significa "ação de olhar para trás".

Consequentemente, quando um rapaz passar por uma moça brasileira, cheia de graça, beleza e ziriguidum e olhar para trás, estará, em realidade, demonstrando respeito no sentido mais latino da palavra.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Suporte e seus padrões

Tenho a impressão que o trabalho do suporte deve ter muito em comum com a medicina. Os usuários repetem certos padrões de comportamento que os médicos devem testemunhar com frequência. Cataloguei alguns padrões muito comuns de comportamento:
  1. Terceirização - alguns usuários pedem aos colegas para conversar com o suporte; o grande problema é que os colegas geralmente não conseguem esclarecer nenhuma questão, porque não sabem o que houve (sabem apenas que algo de ruim aconteceu);
  2. Diagnóstico precoce - talvez baseando-se em sua experiência, muitos usuários gostam de entregar o diagnóstico pronto para o suporte; infelizmente, estão com frequência errados, ou o diagnóstico é insuficiente;
  3. Informação insuficiente - é comum ver imagens de telas (inclusive BMPs de 3MB com "Page not found - 404"), sem o devido contexto, quando muito mais simples seria um número de documento ou uma URL;
  4. Atraso - alguns usuários esperam uma ou duas semanas antes de reclamar de um problema; com frequência, o problema torna-se insolúvel (porque os logs já foram apagados) ou impraticável (recuperar um backup do banco de dados, quando teria sido possível executar uma consulta de flashback no momento da falha);
  5. Dificuldade com o óbvio - não importa quanta informação o sistema oferecer, para certos usuários, todos os avisos são inescrutáveis ("por que o sistema está dizendo que minha senha expirou?").
Alguns usuários mais avançados conseguem aplicar combinções desses padrões. Por exemplo, existe a terceirização atrasada com informação insuficiente ("meu colega teve um problema na semana passada, mas não lembro qual a tela"). Ou ainda, a perniciosa terceirização atrasada com diagnóstico precoce e informação insuficiente ("já resolveram aquela questão do banco de dados que deu problema para o fulano no mês passado?").