O ápice da esquizofenia gerencial por mim presenciada foi o momento em que fui compelido a procurar atividades para cadastrar, mesmo não havendo nenhum projeto a executar. Num mundo sano, teriam me dispensado pelo dia ou pela semana. Mas parece que é fundamental cumprir a carga horária. Logo, eu devo produzir horas!
Paul Graham escreveu que as empresas têm horários de trabalho porque não sabem medir produtividade. Então, como não sabem se os funcionários estão produzindo, elas tentam ao menos impedir que façam algo horripilante como se divertir, ler um livro ou dormir. Felicidade e trabalho devem ser incompatíveis.
Acho que um bom primeiro passo seria trocar a expressão "carga horária" por "carga produtiva". Tendo produzido o que deveria, tanto chefe como empregado deveriam ficar bastante felizes.
Num projeto particularmente complicado, eu tinha um contrato por atividade. A cada passo completado, uma parcela do meu pagamento era liberado. O gerente deixou bastante claro que não liberaria os pagamentos se não cumpríssemos as metas. Pois não só as cumprimos, como nos adiantamos; a equipe era realmente boa. Como prêmio, fomos compelidos a passar a cumprir horas. Qual seria o contrato desse gerente? Devia haver um bônus por má vontade produzida.
E vejo que o resultado disso tudo é que muita gente apenas vende tempo, compra tempo, gasta tempo, conta os dias para se aposentar. Melhorar a qualidade do trabalho, fazer mais com menos, servir melhor o cliente, ganhar mais dinheiro, viver melhor: tudo acaba sendo esquecido.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
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Só tenho uma coisa a dizer e acho que a frase em inglês é mais impactante: I couldn't agree more.
ResponderExcluirExcelente texto. Pena que trate de realidade.
ResponderExcluirAlém (ou como consequência) disso...
...tem gente que "trabalha" para encher sua vida vazia. Para estes parece importar não apenas ocupar as horas, mas também garantir que elas sejam estressantes, pois o estresse, por alguma obscura razão, lembra aos moribundos que ainda vivem. E nada como estressar a todos, especialmente aos subalternos. Um mero exercício de poder e a garantia de não ver sua escassa e desejada felicidade estampada nas faces alheias.
... tem gente pendurada há décadas em seguros empregos públicos que, com o tempo, passa a acreditar que sua mera (e muitas vezes inútil) presença corporal no serviço é sinônimo de trabalho.
Ao longo da minha curta vida profissional encontrei uma explicação simplista para isto: medir produtividade dá muito trabalho.
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