quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Evolução

Há muito tempo li "What is Life?", um livro de uma famosa e polêmica bióloga chamada Lynn Margulis, mas apenas recentemente percebi alguns paralelos com os computadores. O livro descreve a vida de uma maneira muito diferente da que me foi apresentada na escola; lamento que eu tenha tido professores que se esforçaram para apresentar a biologia da maneira mais insossa possível.

Uma característica muito interessante da vida, segundo Margulis, é que ela evolui para saber cada vez mais a respeito de si própria. Os organismos unicelulares originais não sabiam se estavam no calor ou no frio. Não sabiam também se havia comida por perto. Eles simplesmente executavam o mínimo para sobreviver. Se não estavam no lugar certo, morriam.

Com o tempo, os seres vivos foram adquirindo meios de avaliar o ambiente e a si mesmos. As lesmas procuram a umidade. As baleias conseguem comunicar-se a centenas de quilometros de distância. Os cães conseguem detectar cheiros diluidos a uma parte por milhão. Até as bactérias conseguem saber se estão num ambiente adequado e movimentam-se de acordo.

Os nossos micros, no início, não detectavam nada sobre si mesmos e até a comunicação era difícil. Se um micro de 8 bits estivesse num ambiente quente, não pararia até derreter. Hoje em dia, os PCs têm vários sensores no hardware e publicam por SNMP seus dados vitais. Os micros em rede podem comunicar-se com pares do outro lado do mundo.

O que mais me impressionou no livro é como a vida é uma bagunça. As espécies não são distintas e isoladas de forma organizada. De fato, a vida só pode ser descrita como uma coisa só: a vida na terra. Um elemento não sobrevive sem todos os outros. Nós precisamos das bactérias para nossa digestão; precisamos das plantas para nosso oxigênio; dependemos de vários tipos de seres para nossa alimentação.

As nossas células são compostas por seres que já foram separados. As mitocôndrias geram a energia de nossas células, mas possuem seu próprio DNA, que tem muito em comum com o das bactérias.

Mesmo os primeiros computadores compartilhavam muitas peças. Os mesmos processadores e geradores de vídeo aparecem em centenas de micros; poucos micros de 8 bits não usam o 6502 ou o Z80. Mas hoje em dia avançamos ainda mais. O mesmo hardware pode ser reaproveitado de inúmeras maneiras. Pode-se trocar a placa de vídeo, os discos rígidos, o processador, a placa de som, etc.

As interações entre os seres num determinado momento geram o ambiente para o próximo e, aos poucos, o novo ambiente altera os próprios seres. Houve uma época em que não havia oxigênio. As cianobactérias, as algas e as plantas produzem oxigênio como resultado da fotossíntese. O oxigênio rapidamente junta-se a outros elementos e não haveria a concentração necessária para nossa sobrevivência se ele não fosse constantemente reposto. Então, o comportamento de uma geração de seres criou o ambiente necessário para o aparecimento das próximas gerações.

Os computadores modernos não podem ser fabricados sem o auxílio de computadores. Desenhar um micro de 8 bits com caneta e papel é possível, mas desenhar um processador de 64 bits não. Cada geração forneceu as ferramentas necessárias para a concepção da próxima.

Mas o que falta? A vida, aprendi, é um processo, não um indivíduo ou uma espécie. A vida constantemente se reconstrói e se reconfigura. As células estão constantemente se renovando em nossos corpos; quando uma espécie desaparece, outra logo ocupa seu espaço. A descrição da vida está no DNA e no RNA. No fundo, os corpos dos seres são o substrato para a sobrevivência do código genético. Inicialmente, era possível desenhar um computador sem o auxílio de software de CAD; no momento ele é imprescindível. Imagino que logo o processo todo poderá ser realizado por software, sendo o homem responsável por apenas ditar uma descrição geral do produto final. Em algum momento, será possível ao software desenhar o hardware necessário para executar a próxima geração de software.

2 comentários:

  1. Há alguma razão para o blog se chamar Alquerubim. É que eu moro em Portugal perto de uma terra com esse nome.

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  2. Por dois motivos simples: dessa terra vieram meus avós e eu gosto do nome.

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