Nas grandes polêmicas nacionais, dificilmente alguém se dá ao trabalho de analisar os números. Somos uma nação rica em retórica e pobre em realidade.
Com relação à cotas nas universidades, tenho a impressão de que não sejam o suficiente. Para muitos, o problema não está no ingresso, mas na falta de meios para completar o curso. Estudar é caro, mesmo quando é de graça.
Resolvi comparar os números do meu vestibular, que não tinha cotas, com o deste ano, que tem.
Em 1992, meu curso (Ciências da Computação da UFRGS) tinha 72 vagas e 1.390 candidatos (19,3 por vaga, portanto).
Em 2010, 18 anos mais tarde, há 160 vagas e 1.220 candidatos. São 7,6 por vaga. Apenas 112 dessas vagas são de livre ingresso; as demais são reservadas para alunos de escolas públicas e descendentes de africanos.
Então, há 55% mais vagas de livre acesso e 12% menos candidatos ao total.
E, supondo que seja verdadeira a proposição de que as cotas estejam roubando vagas de alunos mais preparados, vou subtrair do total os candidatos às cotas. Para as vagas de livre ingresso, candidataram-se 447 alunos para as 70 vagas de Ciências da Computação (6,38 por vaga) e 244 para as 42 vagas de Engenharia de Computação (5,81 por vaga).
Então, como pode alguém estar usurpando vagas, se todos têm mais?
Making the Mandelbrot Set with Excel
Há uma semana
Esta análise parece até ter vindo do "O homem que calculava". Me lembrou a divisão dos camelos.
ResponderExcluirMas a conclusão a que tu chegaste não se sustenta num caso mais geral. Falha para os cursos, ou janelas temporais, que não apresentaram aumento no número de vagas. Tua conclusão seria justificável se a aplicação das cotas fosse de fato vinculada a um aumento do número de vagas nas universidades.
ResponderExcluirDe qualquer forma, não sou contra cotas para pobres. Só não acho legal (e a Constituição concorda) separar por cor. O critério de pobreza, sozinho, já cobre as desvantagens gerais daqueles que as cotas visam a proteger. O único aspecto positivo das cotas raciais seria acostumar a sociedade a ver em profissões de maior destaque negros, índios e pardos, e com isso reduzir o preconceito. Entretanto, acho que o racismo já estava num curso de deterioração natural e acelerada.
Francisco (Chico) Pinto
No meu baralho, casos concretos valem mais que casos gerais hipotéticos.
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