O problema do trânsito no Rio Grande do Sul lançou-se na mídia mundial da pior forma possível. Um cidadão sem qualquer senso de civilidade, sem empatia e simplesmente carente de bom senso atropelou um grupo de ciclistas na cidade baixa.
O estado, com apenas 38 habitantes/km2, tem uma densidade populacional baixa. No entanto, a mesorregião metropolitana tem mais de 5 milhões dos 10.695.532 de gaúchos. Sua densidade é de 173/km2. Já a região metropolitana tem quase 4 milhões desses 5 milhões e uma densidade de 394/km2. Finalmente, a cidade de Porto Alegre tem 1,4 milhão e uma densidade de 2.815/km2.
Considerando que há, em média, 1,6 pessoas em cada automóvel transitando pelo cidade, é fácil ver como seria impossível adotar o carro como solução universal. Em São Paulo, a taxa média de ocupação de veículo é inferior a 1,5.
A concentração urbana deveria ser encarada como uma oportunidade, mas o transporte de massa foi ultrapassado pelo automóvel. Os carros fazem o centro de Porto Alegre parar nos horários de pico. Parece óbvio que o carro não é solução, mas as autoridades preferem dar cada vez mais espaço justamente para quem gera o problema.
A infraestrutura viária é paga com o dinheiro de todos os cidadãos, mas apropriada em grande parte pelos condutores de automóveis que, de maneira crescente, estão tornando-se intolerantes com outras formas de transporte. Até mesmo os ônibus são vistos como problema, uma vez que têm faixas exclusivas em algumas avenidas.
É estranho este comportamento dos nossos motoristas, porque o transporte alternativo seria vantajoso para quem continuar sobre quatro rodas. Os engarrafamentos são provocadas por automóveis, não por bicicletas. É um egoísmo cego. Levanta-se até a bandeira do direito de ir e vir, como se houvesse o direito de ir e vir de carro. Dirigir um automóvel é um privilégio que a sociedade outorga a quem ela julga capaz (obviamente, a sociedade tem sido muito leniente).
Tendo presenciado a civilidade do motorista europeu e como ele compartilha o espaço urbano com multidões de bicicletas, não posso compreender por que muitos motoristas gaúchos tenham tanta dificuldade em admitir que seja possível conviver com outros meios de transporte. Não são os carros que são perigosos para os ciclistas, é a forma de agir dos motoristas que coloca os mais fracos em perigo.
Dada a falta de transporte de massa (como um metrô efetivo), o centro de Porto Alegre deveria dar oportunidade a formas alternativas de locomoção e diminuir o incentivo para o carro. Veículos grandes, como caminhões, deveriam ser proíbidos, assim como acontece em muitas cidades européias. Carros com apenas o motorista dentro deveriam ser impedidos de entrar no centro. Um pedágio urbano e menos vagas de estacionamento também poderiam diminuir o incentivo do motorista solitário.
O terrível atropelamento dos ciclistas é um momento crítico. Agora, a sociedade pode escolher se continua no atual caminho, ou se decide que quer realmente resolver os problemas urbanos e melhorar a qualidade de vida da capital.
quarta-feira, 2 de março de 2011
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Concordo com o comentário sobre a falta de civilidade no trânsito, só não sei se isto é um "privilégio" só dos gaúchos. Os motoristas daqui são realmente mal-educados, mas andando 30 minutos de carro em SP, é impossível não passares por um acidentes (normalmante envolvendo moto) e o trânsito em Salvador é completamente insano. Acho que as pessoas, independente da UF, usam o volante como uma valvula de escape para as pressões do dia-a-dia, o que é terrível.
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