sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Democracia evolutiva

A maior polêmica das últimas eleições (apesar dos esforços de Dilma e Serra), foi a do palhaço Tiririca. Gastou-se muito papel de jornal para o que será apenas um dentre 513 deputados federais. Tenho certeza que há muitos outros deputados ainda mais interessantes.

A indignação, creio, não foi proporcional ao tamanho do problema, se é que existe um. Não está sequer provado que Tiririca será um mau deputado, analfabeto ou não. Pode ser que um analfabeto dê mais valor à educação que os doutores que normalmente habitam o planalto central.

As pessoas acreditam ter o discernimento necessário para saber qual o melhor candidato, mesmo quando sequer lembram em quem votaram nas eleições anteriores! Além disso, como não existe um sistema de avaliação, não há como decidir, ao fim do mandato, se um deputado fez um bom trabalho. E os jornais dedicam mais tempo às aberrações que ao trabalho sendo conduzido seriamente. As escolhas para o legislativo acabam sendo, em grande parte, ideológicas ou de protesto (como parece ser o caso do Tiririca).

Por isso, sugiro algumas mudanças no sistema eleitoral (relativas ao legislativo, somente). Em primeiro lugar, o voto não deveria ser obrigatório. Assim, evitamos os votos de protesto e economizamos uns reais. Admito não ter nenhuma prova de que os revoltados não sairiam para votar mesmo assim, nem de que o voto de protesto tenha conseqüências nefastas para a nação. De qualquer forma, ele parece incomodar as pessoas e ocupar demasiado espaço nos jornais. Em segundo lugar, supondo que apenas as pessoas que se consideram politizadas (o que não significa que são) compareçam para votar, deveríamos ter um pouco mais de aleatoriedade nas eleições. Por exemplo, 10% das cadeiras do Congresso Nacional poderiam ser sorteadas. Aceitando que não sabemos sempre fazer as melhores escolhas, inserir um fator de aleatoriedade nos ajudará a enxergar possibilidades que normalmente não consideraríamos.

O sorteio não é uma novidade na democracia. Os gregos o usavam para selecionar todos os cargos, exceto o de general. Eles temiam que os cidadãos mais ricos ou conhecidos dominassem as eleições. Outra instituição daqueles tempos que poderíamos reviver é a do ostracismo. Os eleitores podiam, uma vez por ano, anotar o nome de qualquer cidadão e enviar o mais votado para o exílio por dez anos. A cada eleição, poderíamos também eleger alguns deputados para o ostracismo; assim os mais desprezados ganhariam um descanso por alguns anos (e nós deles).

Acredito que essas alterações seriam muito mais úteis e educativas que o voto obrigatório. Agregar um elemento de aleatoriedade tiraria o peso da necessidade de controle que os eleitores com inclinações menos democráticas ainda exibem e também permitiria à sociedade analisar seus próprios preconceitos. O voto pelo ostracismo seria um mecanismo mais construtivo de manifestação de instatisfação que o voto de protesto.

Pior do que está, garanto, não fica.

Um comentário:

  1. São umas idéias interessantes. Eu tenho uma, que não é tão radical, mas já me disseram que gostaram. O voto negativo.

    Quando você vê o maior ladrão da história se candidatar de novo e pensa: "E ainda vai ter gente votando nele", dá vontade de ter um voto extra, o voto negativo, pra tirar pontos dele.

    E, misturando as idéias, o candidato que, depois de somados e subtraídos os votos, tivesse a pontuação negativa mais distante de zero, iria para o ostracismo!

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