Zed dorme profundamente quando uma música muito suave começa a soar pelo despertador digital sobre sua mesa de cabeceira. O volume cresce aos poucos e a música ganha intensidade.
Quando finalmente está desperto e ordena que a música seja encerrada, o despertador solicita que a seleção musical seja avaliada. Quatro estrelas.
Ainda claudicante, Zed tateia o balcão do banheiro à procura do remédio. Surge, então, no espelho, uma enquete: qual dessas marcas você conhece? Zed ignora e vai procurar a cafeteira na cozinha.
O aroma dos melhores grãos colombianos deixa a cozinha quase que encantada. A cafeteira indaga: quantas estrelas esse café merece? Quatro, porque não é hora de responder a enquentes idiotas.
Alimentado, Zed volta ao quarto para vestir um terno, qualquer terno. O espelho mostra comerciais relacionados a seus sapatos e a seu terno. Ele poderia evitá-los, se pagasse o plano Ouro do espelho.
Dentro do elevador, Zed continua a ser bombardeado por comerciais. Talvez o plano Platinum do condomínio valha a pena para ao menos ter um pouco de paz de manhã. Antes de abrir a porta, o elevador oferece uma enquente: qual dessas marcas você recomendaria?
Zed senta dentro do carro e fecha os olhos por uns segundos. Muitos segundos. Então, ele suspira profudamente e dá o comando para o veículo iniciar.
—Bom dia, Zed. Já completamos mil viagens. Como avalias o Toyota e-5000?
—Podemos simplesmente ir? Tenho uma reunião.
—Neste caso, tenho algumas sugestões de livros sobre como melhor conduzir reuniões corportativas. Todos eles foram avaliados com 5 estrelas.
—Não tenho tempo para isso.
—Se avaliares a última compra, terás direito a um desconto em qualquer um desses livros. Pense bem.
—Ao escritório, já!
O transporte estaciona na vaga a tempo para a reunião, mas Zed ainda precisa avaliar a viagem. Cinco estrelas, apenas para não ter que justificar a avaliação. Bela maneira de conseguir boas avaliações, Zed grunhe entre os dentes, encher a paciência de quem não conceder 5 estrelas.
Ao entrar no elevador, um comercial submersivo acende com luzes fortes as quatro paredes, o piso, e o teto. Zed está um pouco irritado e dá um soco na porta, mas não forte o suficiente, pensa ele, para disparar os sensores de segurança.
O elevador silencia e o restante da subida se dá em silêncio. Que estranho.
Quando as portas finalmente se abrem, elas revelam dois seguranças. Zed é escoltado até o Setor de Incidentes Anti-Corporativos.
A polícia chega meia hora mais tarde e o leva até a delegacia, onde ele é identificado.
Dentro da cela, Zed deita-se e fecha os olhos. Um zumbido conhecido se aproxima: é o robô-recepcionista que ele mesmo projetou e que rendeu trilhões ao seu empregador.
—Bom dia, Zed. Lamento encontrar-te aqui, mas preciso fazer umas perguntas a respeito da abordagem policial desta manhã: que nota darias à limpeza da viatura, de um a dez?; que nota darias à cortesia dos policiais, de nove a dez?; como avaliarias a cela, de um a dez?
Infelizmente, a delegacia não oferece um plano sem comerciais na cela.




