quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Taxonomia das Necessidades Humanas

Eu vinha observando que as coisas consideradas de luxo tinham, acima de quaisquer considerações práticas, a qualidade de serem usadas para exibição pública: ostentação. Muitas coisas de luxo sequer são práticas, como carros baixinhos de dois lugares que mal conseguem navegar as ruas acidentadas de nossas cidades.

Após várias discussões filosóficas em família, chegamos à seguinte classificação das coisas que usamos:

  • Necessidade
  • Conforto
  • Privilégio
  • Luxo

Necessidades são as coisas básicas da vida: comida, roupas, um lugar para dormir e tomar banho, etc.

Conforto são as coisas que tornam a vida mais confortável, como água quente, sapatos confortáveis, eletrodomésticos, chuveiro a gás, um carro (em lugares com transporte público insuficiente), etc.

Privilégios são coisas que têm um pouco mais de qualidade, como sabonetes perfumados, oléo de banho francês, um carro japonês confiável, chocolate suíço, etc. Elas nos trazem prazer, mas não chamam a atenção.

Finalmente, luxo são, como anteriormente apontado, objetos ou serviços comprados para serem ostentados: carros importados caros, hotéis de 5 estrelas, roupas de marca, etc. É possível que essas coisas nunca tenham sentido econômico. Os carros da Toyota são reconhecidamente os carros mais confiáveis; carros como Ferraris e Porsches, apesar de serem muito mais caros, não alcançam a longevidade dos Toyotas e, portanto, só têm sentido se usados para ostentação. Os carros da Mercedes igualam a taxa de falha dos Toyotas até 5 anos, depois os Toyotas reinam solitários no topo do ranking da confiabilidade.

Por isso, eu penso que os itens de luxo são mais uma falha ou fraqueza de caráter do que qualquer outra coisa; estão aí para confirmar o sucesso do dono, ou suprir sua necessidade de reconhecimento, ou tentar apagar suas falhas.

O interessante dessa característica definidora do luxo é que ela vale para empresas. Quando surge uma nova moda tecnológica, é comum que seja adotada sem que seja avaliada na escala das necessidades.

Assim entram para as empresas o Big Data e a IA. Ninguém mede a necessidade, mas todos correm para implementar algo para então exibir ao resto da sociedade. A característica mais relevante é que é preciso ter porque os outros têm; o custo e os possíveis benefícios não são avaliados.

Claro que essas exibições de riqueza funcionam em alguma dimensão. Elas criam uma imagem de poder ou de sucesso. Desde sempre os ricos usam o luxo para se diferenciarem. Mas o melhor que uma pessoa ou uma empresa podem fazer é aprender avaliar o que é luxo e o que é necessidade, conforto, ou privilégio. Recursos que sobram podem ser usados para suprir mais necessidades, e mais confortos, e mais privilégios.

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