Eu ando muito interessado no Japão ultimamente. Tenho lido Sayaka Murata e Haruki Murakami. Entretanto, não é a cultura japonesa que me atrai; os artefatos é que me fascinam.
Há muitos anos, eu tinha um toca-fitas portátil vermelho. Eu acredito que ele era da marca Sanyo, que nem existe mais.
E, se minha memória não falha, era como o da imagem abaixo.
Quando eu tinha uns 10 anos, comprei um metro de cabo estéreo e dois plugues machos, e liguei o toca-fitas ao três-em-um do pai para poder copiar fitas de jogos.
Tem algo no design dos eletrônicos japoneses dos anos 1980 que considero muito atraente. Por exemplo, o MSX Hitbit 101 vermelho é o micro mais bonito já produzido.
Para não passar a impressão que tenho fixação com objetos vermelhos, eis uma linda máquina de escrever Brother Deluxe dos anos 1960.
Os japoneses até hoje fabricam produtos muito bons, mas a evolução da TI acabou com a necessidade de termos aparelhos dedicados para atividades distintas: tudo foi para dentro do celular.
Algumas coisas sobrevivem. Os celulares ainda não cozinham arroz e, é claro, os japoneses, sendo grandes consumidores do grão, inventaram uma panela perfeita para cozinhá-lo.
A Philco é uma empresa estadounidense, mas o projeto original é da Toshiba, dos anos 1950.
O que torna esse objeto tão interessante, fora o design (e a cor) é o mecanismo completamente analógico. Ela não tem nenhum processador dentro. Ela depende de um imã que perde a função de imã quando aquecido acima de 100°C. Quando a água toda tiver evaporado, o arroz esquenta acima dessa temperatura, o imã deixa de funcionar e o circuito abre e desliga o cozimento. É um pouco mais complicado, porque ela continua aquecendo o arroz enquanto não for desconectada da tomada. O funcionamento básico, porém, depende apenas de dois fenômenos físicos: o arroz não esquenta além da temperatura de ebulição da água enquanto houver água no recipiente; e o imã deixa de funcionar acima da temperatura de ebulição da água (cada tipo de imã deixa de funcionar numa temperatura diferente, a qual é conhecida como temperatura de Curie).
Ou seja, não tem muito o que dar errado. É um aparelho analógico perfeito. Apenas lamento não ter comprado uma antes, porque facilita muito o preparo das refeições.
Acho que essa panela só é tão perfeita, porque foi inventada antes de ser prático usar uma CPU. Se uma equipe fosse começar do zero hoje a criação de uma panela de arroz, posso apostar que teria um painel digital, uma MCU, e um software com muitos bugs. Além disso, claro, a placa controladora estragaria devido à exposição ao calor.
Por sorte, ela foi inventada por japoneses nos anos 1950.